quarta-feira, 15 de abril de 2020

Querida Dianna!

Ir de encontro... isso também é o que me interessa!

Estabelecer essa pausa para escrever-te como um paradoxo de movimento que meu corpo em isolamento me provoca a mover-me. Neste momento, tomo um chá de hibisco vermelho como o sangue que escorre do meu corpo como ciclo que me integra a minha natureza mais originária. Sim, sangro. E sempre é algo estranho de mim, que acontece apesar de mim...

Como paradigma existencial, feliz estou pela sua escrita que me conduz num passo de dança em rodopios em mim mesmo. Sim, minha escrita é masculina. Ainda não nominal, mas com vibração de sentir-te como um caractere que completa minhas palavras... Sentir-te feminina manifesta a minha tradução mais subjetiva de gênero literário. Talvez quem vos escreva seja um heterônimo, como fez Fernando Pessoa com suas personalidades poéticas ou talvez seja meu super ego, como diria Freud ou talvez seja apenas a minha dança no seu lirismo mais verdadeiro. Não quero dar gênero, nem estética, apenas fluo... Como um gênero fluido que não quer rótulos.

Ah, os segredos!

Linda Dianna, será que os segredos também são valiosos para com aquilo que nos faz manifestar? Será que os nossos sonhos são os nossos segredos ocultos? 

Sinto que neste isolamento danço o caos dos meus pensamentos. Dançar o caos é algo que pulsa no meu corpo com todos os seus circuitos. Como na dança butô que dançamos nossos fantasmas, medos, angústias. Sinto que o colapso é a minha rítimica para uma dança solitária que danço todos esses últimos dias. Danço a falta, o vazio e a espera.

Quero criar passos de dança com as palavras, já que meu corpo dançante não cabe neste espaço. Sinto-me como uma flor que quer nascer entre as ruínas de uma guerra invisível.

Sinto um corpo desabitado. E habito-me de suas palavras.

Desejo este encontro. Meu corpo deseja dançar o seu. Reterritorializar os afetos, o toque e o olhar.

Esse projeto para mim é um movimento que pulsa.

Sinto você comigo. Segura a mão?

Boa lua minguante para ti.

Lua. 



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